SP
precisa de grandes projetos urbanos como Puerto Madero. Sem isso, áreas serão
tomadas por agentes preocupados só com os seus empreendimentos.
Os
quatro anos do mandato do futuro prefeito são um período decisivo para a
cidade.
As
sugestões abaixo visam contribuir para a reflexão e com o debate sobre os rumos
que agora se abrem. Elas se baseiam nos trabalhos desenvolvidos pelo Instituto
Urbem, que busca conceber, estruturar e viabilizar intervenções urbanas de
grande escala em São Paulo.
Dois
pontos são essenciais para a construção de uma cidade agradável e democrática:
boas políticas públicas e bons projetos urbanos.No plano das políticas
públicas, é urgente revisar o Plano Diretor e Código de Obras, para promover
regras de zoneamento mais equilibradas.
Experiências
em todo o mundo demonstram que as zonas com uma função única são mais
vulneráveis à violência e à ocupação criminosa.
Vias
que abrigam apenas escritórios se esvaziam em horários não comerciais,
tornando-se propícias à realização de atividades ilícitas e alvo de
depredadores e criminosos. Da mesma forma, bairros apenas residenciais são
naturalmente mais ermos e, portanto, mais suscetíveis e expostos ao crime e à
violência.
A
revisão do Plano Diretor e do Código de Obras pode também acabar com distorções
como a que prevalece na região central de São Paulo, onde encontramos, por
exemplo, a ampla e majestosa avenida Rio Branco dotada de edificações menores e
degradadas, que não condizem com a dimensão física e a infraestrutura viária do
local.
Resultado:
vê-se ali a degeneração do tecido urbano, com praças vazias e monumentos
depredados.
Os
equívocos que levaram à degradação do centro causaram o surgimento prematuro de
novos núcleos, como as avenidas Paulista e Faria Lima. Corrigi-los passa pelo
ajuste dos índices construtivos e das regras de zoneamento.
A
política habitacional deve reverter o esvaziamento da região central com uma
ampla verticalização, que gere mais espaços públicos e áreas verdes e enseje a
construção de imóveis para todas as classes sociais -é imprescindível promover
a miscigenação de classes sociais, dissolvendo as fronteiras entre bairros
"de pobres" e bairros "de ricos", que resultam apenas no
ressentimento e na polarização da sociedade.
No
âmbito dos projetos urbanos, é recomendável o foco em propostas de grande
porte.
São
Paulo vive um dos processos mais vigorosos de desconcentração industrial em
curso no planeta. Áreas urbanas previamente ocupadas por indústrias, galpões,
armazéns ou entrepostos buscam novas vocações. Sem um marco regulador forte,
essas áreas serão tomadas por agentes imobiliários preocupados unicamente com
seus empreendimentos, sem nenhuma consideração com a geração de bens públicos.
Na
concepção, estruturação e execução de novos projetos urbanos, a prefeitura deve
manter uma interlocução que não esteja limitada às construtoras e empreiteiras,
ouvindo, consultando e mobilizando tanto a sociedade civil quanto instituições
e organizações privadas.
Não
temos, em São Paulo, nenhuma intervenção urbana como Puerto Madero, em Buenos
Aires, ou o More London.
Nossas
Berrinis, Paulistas e Faria Limas, quando comparadas a intervenções realizadas
em outras grandes cidades, são inferiores em qualidade urbanística e
arquitetônica. Nossos projetos sempre foram tímidos em escala e sofisticação.
Não
é difícil apontar alvos para o próximo mandato: a área industrial do Jaguaré, o
Ceagesp, o projeto do Hidroanel (que pode revolucionar o sistema de drenagem da
cidade), o entorno do Rodoanel, o Minhocão e suas vizinhanças. É preciso também
ampliar e revitalizar espaços públicos. Praças, calçadas, passeios, museus e
ciclovias tornam a cidade mais acolhedora.
Em
1870, éramos 30 mil habitantes. Em 140 anos, chegamos a 20 milhões na região
metropolitana. Foi um curto e explosivo processo de urbanização que privou São
Paulo das marcas de sua história.
Na
ausência de grandes monumentos históricos, de uma natureza exuberante e sob o
influxo do crescimento desordenado, São Paulo tem de planejar cuidadosamente o
futuro -um futuro no qual as novas tecnologias sejam aplicadas para a solução
dos problemas urbanos e em que os cidadãos sejam prioridade absoluta.