Elíseos fica restrita à fachada de palácio
Quem passa pela avenida Rio Branco se impressiona com a fachada
rica em detalhes e cores em meio a uma região degradada no centro da
cidade de São Paulo. Depois de reforma bancada pela iniciativa privada que
custou R$ 5 milhões e durou três anos, o Palácio Campos Elíseos ganhou de volta
os tons originais do projeto do final do século passado. Embora sua nova função
já esteja definida - hoje a casa está desocupada -, a restauração do edifício
ainda não acabou (falta arrumar o interior e a revitalização do entorno
está parada).
Em 2007, a pedido do então governador José Serra (PSDB), uma
equipe de professores da Faculdade de Arquitetura da USP (Universidade de São
Paulo) se empenhou em redesenhar o interior do palacete para abrigar novamente
a residência oficial do governador. O projeto também propunha intervenções
urbanísticas no entorno como uma forma de revitalizar essa área degradada da
cidade.
O diretor da FAU -USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), Silvio Sawaya, um dos autores do projeto, explica que a ideia era concentrar funções públicas e culturais na região para reintegrar os bairros do Pari, Campos Elíseos e Bom Retiro.
Mas, com a saída de Serra para concorrer à Presidência da República, não há sinal de que o estudo será colocado em prática pelas próximas gestões. O professor de história da arquitetura da USP Nestor Goulart avalia que a demora na implantação de projetos de restauração é reflexo da falta de prioridade e de experiência em iniciativas de revitalização.
- A reforma externa é um passo importante para a restauração de um patrimônio cultural e arquitetônico da cidade. Mas é preciso atribuir logo uma função a ele e estender essa revitalização para o entorno. Caso contrário, a recuperação fica restrita aos muros. Vira uma revitalização de fachada.
Já a historiadora Maria Cecília Naclério Homem, autora do livro O Palacete Paulistano, avalia que não há interesse em conservar a história arquitetônica da cidade.
- Há um grupo de palacetes importantíssimos em volta do Palácio Campos Elíseos, mas não há vontade pública para conservá-los. Não é ignorância. É mediocridade.
O diretor da FAU -USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), Silvio Sawaya, um dos autores do projeto, explica que a ideia era concentrar funções públicas e culturais na região para reintegrar os bairros do Pari, Campos Elíseos e Bom Retiro.
Mas, com a saída de Serra para concorrer à Presidência da República, não há sinal de que o estudo será colocado em prática pelas próximas gestões. O professor de história da arquitetura da USP Nestor Goulart avalia que a demora na implantação de projetos de restauração é reflexo da falta de prioridade e de experiência em iniciativas de revitalização.
- A reforma externa é um passo importante para a restauração de um patrimônio cultural e arquitetônico da cidade. Mas é preciso atribuir logo uma função a ele e estender essa revitalização para o entorno. Caso contrário, a recuperação fica restrita aos muros. Vira uma revitalização de fachada.
Já a historiadora Maria Cecília Naclério Homem, autora do livro O Palacete Paulistano, avalia que não há interesse em conservar a história arquitetônica da cidade.
- Há um grupo de palacetes importantíssimos em volta do Palácio Campos Elíseos, mas não há vontade pública para conservá-los. Não é ignorância. É mediocridade.
Confira também
Procurada, a Secretaria Estadual de Planejamento disse
apenas que “a possibilidade de sua execução depende de estudos e análises que
oportunamente deverão ser realizados”. De qualquer forma, a intenção de
transformar o terceiro andar do palacete na casa oficial do governador já foi
descartada.
O orçamento de R$ 20 milhões será destinado agora a transformar
o interior do edifício em um espaço para eventos, aberto à visitação do
público, e que ainda poderá ser utilizado como gabinete do governador no centro
da cidade. Isso dependerá da conclusão do projeto e da abertura da licitação
que vai contratar a empresa para fazer o serviço, o que deve acontecer
ainda neste semestre, segundo a secretaria. A previsão é de que a reforma dure
18 meses.
A estimativa de gastos com as reformas interna e do entorno, propostas pela equipe de arquitetos da USP, é avaliada em quase R$ 215 milhões – o que inclui a criação de uma esplanada cívica (jardins, passeios e pavilhão de eventos ao redor da casa), a construção do Teatro de Dança e a desapropriação de imóveis. A autora do livro sobre os palacetes de São Paulo lembra que os projetos de revitalização sempre estiveram atrelados à iniciativa privada.
- Por um lado, o capital privado acelera o processo de revitalização da área. Por outro, é sempre a especulação imobiliária que vai definir qual construção será ou não reformada. Além disso, o público geralmente acaba sendo impedido de visitar essas construções, que são patrimônios da cidade.
Já para Sawaya, o Estado tem verba para arcar com o projeto de reurbanização da área, mas poderia propor um esquema misto de investimento, as chamadas PPP (parcerias público-privadas).
- O Estado não deixa de participar da revitalização e ainda pode contar com o apoio do capital privado.
A Secretaria de Planejamento informou que a reforma da parte interna sairá dos cofres públicos. Já a reforma da parte externa do Palácio Campos Elíseos, que custou cerca de R$ 5,3 milhões, foi patrocinada por cinco empresas e gerenciada pela Fundação Energia e Saneamento, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). O restauro se preocupou essencialmente em redescobrir as cores e os detalhes da fachada. A arquiteta Maria Vitória Fischer, uma das responsáveis pelo trabalho, relata que as várias camadas de tinta aplicadas ao longo dos anos esconderam os ornamentos do projeto original.
Nova função
Arquitetos e governo divergem quando o assunto é a função que o palácio deve ter após a reforma. Para Maria Cecília, o palacete poderia novamente abrigar um órgão público e fazer valer o investimento feito no projeto de restauro. Já para Goulart, a construção histórica deveria receber sua função original. O palacete serviu de residência a um empresário em fins do século 19, foi sede do governo até os anos 60 e de secretarias de Estado depois disso.
- A experiência internacional mostra que a melhor forma de conservar um imóvel histórico, como o Palácio Campos Elíseos, é devolver a ele sua função original. Cada secretaria que passou por ali achou que poderia fazer um puxadinho como bem quisesse.
O palácio foi projetado pelo arquiteto alemão Matheus Haussler, em 1890, por encomenda do empresário Elias Chaves, figura política influente na elite paulistana. Mais de cem anos se passaram e diversas mudanças foram feitas na construção, tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico) em 1977.
Alguns cômodos do Palácio Campos Elíseos, apesar de desgastados, preservam traços e materiais do projeto original. Já no primeiro andar, é possível perceber como os espaços foram desconfigurados para abrigar repartições públicas. Depois da última desocupação, em 2002, restaram carpetes e cortinas, instalações e fios expostos, além de paredes de gesso que dividiam os ambientes.
A Secretaria de Planejamento afirma que fará poucas intervenções dentro do imóvel, pois ele será apenas um espaço eventual para despachos e reuniões de representantes do governo. As mudanças, completa a pasta, não serão como as que foram já feitas na época em que o palácio serviu como secretarias do Estado.
A estimativa de gastos com as reformas interna e do entorno, propostas pela equipe de arquitetos da USP, é avaliada em quase R$ 215 milhões – o que inclui a criação de uma esplanada cívica (jardins, passeios e pavilhão de eventos ao redor da casa), a construção do Teatro de Dança e a desapropriação de imóveis. A autora do livro sobre os palacetes de São Paulo lembra que os projetos de revitalização sempre estiveram atrelados à iniciativa privada.
- Por um lado, o capital privado acelera o processo de revitalização da área. Por outro, é sempre a especulação imobiliária que vai definir qual construção será ou não reformada. Além disso, o público geralmente acaba sendo impedido de visitar essas construções, que são patrimônios da cidade.
Já para Sawaya, o Estado tem verba para arcar com o projeto de reurbanização da área, mas poderia propor um esquema misto de investimento, as chamadas PPP (parcerias público-privadas).
- O Estado não deixa de participar da revitalização e ainda pode contar com o apoio do capital privado.
A Secretaria de Planejamento informou que a reforma da parte interna sairá dos cofres públicos. Já a reforma da parte externa do Palácio Campos Elíseos, que custou cerca de R$ 5,3 milhões, foi patrocinada por cinco empresas e gerenciada pela Fundação Energia e Saneamento, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). O restauro se preocupou essencialmente em redescobrir as cores e os detalhes da fachada. A arquiteta Maria Vitória Fischer, uma das responsáveis pelo trabalho, relata que as várias camadas de tinta aplicadas ao longo dos anos esconderam os ornamentos do projeto original.
Nova função
Arquitetos e governo divergem quando o assunto é a função que o palácio deve ter após a reforma. Para Maria Cecília, o palacete poderia novamente abrigar um órgão público e fazer valer o investimento feito no projeto de restauro. Já para Goulart, a construção histórica deveria receber sua função original. O palacete serviu de residência a um empresário em fins do século 19, foi sede do governo até os anos 60 e de secretarias de Estado depois disso.
- A experiência internacional mostra que a melhor forma de conservar um imóvel histórico, como o Palácio Campos Elíseos, é devolver a ele sua função original. Cada secretaria que passou por ali achou que poderia fazer um puxadinho como bem quisesse.
O palácio foi projetado pelo arquiteto alemão Matheus Haussler, em 1890, por encomenda do empresário Elias Chaves, figura política influente na elite paulistana. Mais de cem anos se passaram e diversas mudanças foram feitas na construção, tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico) em 1977.
Alguns cômodos do Palácio Campos Elíseos, apesar de desgastados, preservam traços e materiais do projeto original. Já no primeiro andar, é possível perceber como os espaços foram desconfigurados para abrigar repartições públicas. Depois da última desocupação, em 2002, restaram carpetes e cortinas, instalações e fios expostos, além de paredes de gesso que dividiam os ambientes.
A Secretaria de Planejamento afirma que fará poucas intervenções dentro do imóvel, pois ele será apenas um espaço eventual para despachos e reuniões de representantes do governo. As mudanças, completa a pasta, não serão como as que foram já feitas na época em que o palácio serviu como secretarias do Estado.
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